sábado, 19 de abril de 2014

RECORDANDO UM GRANDE DO FADO


José Fontes Rocha nasceu no Porto a 20 de Setembro de 1926. Dos 16 aos 30 anos exerceu a profissão de electricista, no norte do país, conciliando-a com a actividade de guitarrista amador, que começou a praticar aos 20 anos. Descendente de uma família de músicos, o seu avô paterno, Joaquim Rocha foi regente e compositor da Banda de Santiago, uma banda civil, das chamadas "bandas regimentares" que abrilhantavam os coretos e as festas das vilas e aldeias do norte do país. Foi este seu avô que, aos 12 anos, começou a ensinar-lhe solfejo e, simultaneamente, aprendia a tocar violino. O gosto pela guitarra adquiriu-o por influência do pai, António da Silva Rocha que tocava este instrumento em paródias de amigos. Foi assim que aos 16 anos começou a dedicar-se à guitarra, desta feita como autodidacta, aprendendo a tocar sozinho, tocando entre amigos, em tertúlias e em festas particulares. O seu gosto pela guitarra portuguesa era fomentado também pela audição dos programas de guitarradas, nomeadamente na Emissora Nacional, e de onde se destacam os nomes de Raul Nery, Paredes, José Nunes e Carvalhinho.
Dez anos depois, em 1956 e a convite de José Nunes, vem para Lisboa, e integra o elenco do Restaurante "Patrício", na Calçada de Carriche tocando guitarra portuguesa. Quando o "Patrício" encerrou portas, Fontes Rocha começa a trabalhar nos Correios de Portugal, e de forma esporádica toca no "Pampilho", uma casa também situada na Calçada de Carriche. Pouco tempo depois foi contratado pela "Adega Mesquita", e abandonou definitivamente a profissão de electricista, decidindo tornar-se guitarrista profissional. Neste período acompanha o fadista Fernando Farinha tendo inclusivamente realizado vários concertos no Canadá e E.U.A.  (1962). Na "Adega Mesquita" terá um dos encontros mais decisivos da sua carreira, conhece a fadista Amália Rodrigues, com quem irá desenvolver um grandioso trabalho musical.
Como instrumentista, diz-nos Pedro Caldeira Cabral, que tinha "como modelos estilísticos os dos guitarristas Armandinho e José Nunes, cuja influência no seu tipo de sonoridade é perfeitamente reconhecível. Fontes Rocha desenvolveu, no entanto, com uma persistência notável uma série de aperfeiçoamentos na sonoridade das guitarras, introduzindo técnicas de «surdina», redesenhando a forma das unhas e o ângulo de ataque das cordas, etc." (Pedro Caldeira Cabral, “A Guitarra Portuguesa”, Lisboa, Ediclube, 1999).
Fontes Rocha fez parte do Conjunto de Guitarras de Raul Nery (integrado também por Júlio Gomes e Joel Pina), com o qual se deslocou ao estrangeiro, também para acompanhar Maria Teresa de Noronha. Enquanto executante neste conjunto participam todas as semanas em programas na Emissora Nacional, onde interpretam 4 peças diferentes, o que exigia ensaios e uma grande dose de profissionalismo, uma vez que, segundo Fontes Rocha, é muito complicado pôr 4 instrumentos a tocar simultaneamente.
Com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, actuou com a Orquestra de André Kostelanetz, na temporada de 1969-1970, contribuindo para o grande êxito alcançado por Amália Rodrigues no Lincoln Center de Nova Iorque.
Na década de 60 destaca-se como guitarrista de Amália Rodrigues, sendo um dos pontos altos do percurso artístico do guitarrista. Com Amália percorre praticamente todos os palcos do mundo, desenvolvendo um trabalho de elevada qualidade, quer a nível de composições, como de sonoridades, em estreita colaboração com Alain Oulman e aliadas a uma cuidada escolha de poemas. Das numerosas apresentações que fez com a fadista destacam-se espectáculos como o realizado no Olympia de Paris, em 1968, destinado aos emigrantes portugueses, onde, para além do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, participaram também Carlos Paredes, Simone de Oliveira, Duo Ouro Negro e o Grupo de Bailados Verde Gaio.
Além dos discos gravados com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, Fontes Rocha editou ainda três discos com guitarradas, tocou para Natália Correia num disco de poesias e fez o acompanhamento em discos de inúmeros fadistas, caso de Ada de Castro, António Mourão, Carlos do Carmo (no LP "Por morrer uma andorinha"), Fernando Farinha, João Braga, Maria Amélia Proença e Maria da Fé, entre muitos outros. Das gravações feitas com Amália Rodrigues, Fontes Rocha destaca com orgulho o trabalho realizado para o disco "Com Que Voz", com músicas de Alain Oulman, onde o guitarrista foi autor dos arranjos e do som. Como nos relata o próprio: "tive a sorte de fazer o melhor trabalho dela. Foi um disco que foi premiado em todo o mundo, com um prémio que só se dá a grandes músicas eruditas (…). Esse disco foi feito por mim (…) peguei na minha guitarra de Coimbra (afinada por Artur Paredes para o Fado de Coimbra). E foi nessa guitarra afinada de Coimbra que eu fiz esse disco, que está certíssimo para a música, e até inclusivamente para os poemas." (Baptista Bastos, "Fado Falado", Lisboa, Ediclube, 1999).
José Fontes Rocha é autor da música de vários Fados, alguns bastante famosos, tais como "Quentes e Boas" (com letra de José Luís Gordo), "Fado Isabel" (corrido cantado com diversas letras), "Anda o Sol na minha rua" (letra de David Mourão-Ferreira), "Lavava no rio lavava" e "Trago o Fado nos sentidos" (ambos com poemas de Amália). Compôs também melodias de guitarradas, como a "Valsa em Si menor", "Variações à Roda de uma Valsa", "Variações em Ré menor", "Variações em Sol Maior" e "Evocação em Mi menor".
Em 2005 recebe o Prémio Amália Rodrigues para Melhor Compositor de Fado.
O seu talento e sensibilidade são reconhecidos numa justa homenagem aos 80 anos de vida, realizada em 19 de Outubro de 2006, no Fórum Lisboa, onde diversos fadistas interpretaram melodias de sua autoria.
Exímio acompanhador e compositor de melodias, José Fontes Rocha continua hoje a ser uma fonte inspiradora para todos os instrumentistas e fadistas.
José Fontes Rocha faleceu a 15  de Agosto de 2011 em Lisboa. Tinha 85 anos

Fonte: Portal do Fado

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